Formação precisa apoiar ações concretas para desenvolvimento dos estudantes

Formação precisa apoiar ações concretas para desenvolvimento dos estudantes

O desafio de transformar intenções em ações e melhorar resultados educacionais pode ser superado quando se trabalha de maneira colaborativa, somando esforços. Essa perspectiva guiou o evento de encerramento da jornada formativa para diretores e secretários de Educação de 21 municípios do Rio Grande do Sul, que integrou a fase 1 do EducaMaisRS, iniciativa do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RS), com apoio da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira. O evento contou com novas temáticas para formação de educadores, como a convivência escolar e marcou a entrega de planos de ação em que todos os municípios participantes se comprometeram com medidas concretas para garantir aprendizagem de qualidade a seus estudantes.

“Estamos concluindo a primeira fase de um projeto bem sucedido que começou com uma vontade de contribuir efetivamente com a educação, por meio de uma capacitação mais personalizada, respondendo aos desafios locais”, relembrou o presidente do TCE-RS, Alexandre Postal. “Os gestores que aceitaram o convite mostraram claramente vontade de avançar, receberam visitas dos auditores e participaram dos encontros temáticos mensais, aprendendo de forma dinâmica com os especialistas convidados. Tivemos oportunidade de nos aproximar, o Tribunal aprendeu muito sobre o desafio que eles enfrentam, e, no convívio com a USP, descobrimos a importância de trazer os diretores como agentes desse processo também. Foi fantástico”, afirmou.

Ao longo de seis meses, os participantes receberam sugestões para seus processos de formação de professores, implementação do currículo, como promover ações com foco no estudante e visando a equidade, a importância do monitoramento e do papel dos diretores enquanto lideranças escolares – que foi o tema da contribuição do curso da Cátedra. Com base nessas discussões, foram convidados a detalhar futuras ações baseadas em evidências, com seus objetivos e prazos de implementação. Este plano de ação – com duração de dois anos, para superar eventuais mudanças de gestão após as eleições – será acompanhado pelo TCE-RS.

“O grande diferencial deste projeto inovador foi perceber que muitos municípios já possuíam algumas ideias na linha do que foi apresentado, mas pudemos reforçar o caminho para fazer acontecer e apoiar em eventuais ajustes para as realidades locais”, contou Renato Pedroso Lauris, coordenador do Centro de Orientação e Fiscalização de Políticas Públicas do TCE-RS. “Encerramos esta fase com grande carga de conhecimento aplicada nos planos de ação, após muitas trocas. Mas não basta colocar no plano, tem que colocar na realidade, implementar o que foi desenhado, isso é o mais difícil. Por isso, vamos realizar ciclos de monitoramento e outras mentorias online, buscando enxergar nas escolas tanto aquilo que está evoluindo, quanto o que possa estar dificultando o que foi pactuado, procurando caminhos para implementar.”

Em sua apresentação, Mozart Neves Ramos, titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira, destacou o comprometimento dos participantes. “O que nós vimos aqui foi um trabalho coletivo de muita qualidade e um esforço colaborativo na busca por avanços educacionais significativos. Por isso, reconhecemos a importância de seguirmos em 2024”, afirmou. “Às vezes na educação brasileira falta humildade para mudar. A gente está precisando pensar juntos o que é o melhor para o futuro do estudante e oferecer uma educação que, de fato, faça sentido para eles”, defendeu Mozart, reforçando também a importância de formar professores para promover colaboração, pensamento crítico e resiliência, entre outras competências.

Para a secretária de Educação de São Francisco de Paula, e diretora de articulação da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação no Rio Grande do Sul (Undime-RS), Ana Paula Bennemann, o projeto trouxe uma visão de colaboração importante para os municípios. “Dentre inúmeras partilhas significativas vivenciadas no programa, destaco duas valorosas contribuições da Cátedra da USP para a Educação de São Francisco de Paula:  boas práticas na seleção, formação e avaliação de diretores de escola e formação continuada personalizada para professores e demais profissionais da educação”, relatou.

Segundo ela, o novo processo realizado no final deste ano para seleção e nomeação de diretores foi baseado em critérios técnicos, ancorados nas reflexões trazidas durante o programa. Do mesmo modo, o planejamento estratégico para a formação na rede em 2024 seguiu as premissas de uma Comunidade de Aprendizagem, focando na partilha entre pares. “Foi um grande movimento! Esperamos poder contar com novas contribuições da Cátedra em 2024”.

Curso para diretores escolares

O evento também marcou o encerramento da jornada formativa para diretores escolares. Cerca de 400 participantes receberam certificado por terem assistido às aulas assíncronas sobre Competências do Diretor Escolar, além de participarem dos dois encontros presenciais. Por votação dos participantes, o tema da palestra de encerramento foi sobre a convivência escolar e a prevenção de situações de violência, debatido pela pesquisadora e ex-secretária de Educação de Poços de Caldas (SP), Flávia Vivaldi.

“Esse tema ganhou espaço quando vieram os casos de violência, mas a nossa perspectiva é de que o combate à violência está implícito em um trabalho intencional de convivência”, defendeu Flávia, relembrando que estudos mostram que os autores de ataques se sentem pertencentes às comunidades que estimulam violências diversas, especialmente por meio de redes sociais, e, em geral, não se sentem pertencentes à escola. “Existem características nesse fenômeno que dizem respeito à ausência de intencionalidade das escolas na convivência”, afirmou.

Segundo ela, é importante lembrar que a função social da escola é instrumentalizar as pessoas para que, de forma concreta, tenham um comportamento social mais humanizado do que temos visto em muitas situações. “Trabalhar com a convivência é estar comprometido com o ser humano que queremos formar. Será que alguém se ilude de imaginar que o estudante pode aprender com medo, com raiva? Cuidar das relações humanas é tão importante quanto cuidar de Português e Matemática, e, se não qualificamos as relações na escola, os nossos índices não vão melhorar”, disse a especialista.

Ao lembrar que o conflito é inerente às relações humanas, e que saber reconhecer os diferentes tipos de conflito e as ferramentas mais adequadas para lidar com cada um deles pode fazer toda a diferença, a pesquisadora defendeu que um plano de convivência na escola possa colocar o tema como objeto de aprendizagem e gerar situações intencionalmente planejadas para que toda a comunidade escolar construa as habilidades necessárias para uma relação positiva.

“Temos visto algumas intervenções equivocadas, e quando a gente não faz as devidas intervenções, reage como bombeiro apagando incêndios, é muito fácil que feitos menores escalem para casos mais graves”, afirmou, explicando as diferenças entre transgressões, incivilidade e violências como o bullying.  “Convido todos vocês a refletirem sobre quais são as ações concretas e sistemáticas de suas escolas para qualificar a convivência? Quais são os momentos e conteúdos usados para isso? Se não houver respostas, o trabalho pode estar frágil.”

Ao compartilhar sugestões e experiências para o desenho e implementação de planos de convivência, Flávia Vivaldi falou da importância de evitar descontinuidades ao institucionalizar o trabalho, considerar capacitação e garantir tempos e espaços específicos para este trabalho. “É preciso avaliar o trabalho feito com foco nas relações humanas porque ele é valioso em si mesmo, e também para saber se estamos oferecendo condições para as aprendizagens. Além disso, buscar parcerias e apoios externos quando necessário, como esta iniciativa louvável que vocês estão tendo aqui”, finalizou.

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