Em 2024, mais de 2 bilhões de pessoas em 60 países vão votar em eleições gerais ou municipais – incluindo o Brasil. Será a primeira vez em que as campanhas terão à disposição ferramentas de inteligência artificial que ajudam a baratear a produção de conteúdo mas, ao mesmo tempo, também podem ser usadas para gerar informações falsas. Mas a preocupação com o uso da tecnologia nas campanhas não é nova. Os professores Cíntia Rosa Pereira de Lima, da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da USP, e Evandro Eduardo Seron Ruiz, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da USP, e que também integram o Grupo de Estudo “Direito e Tecnologia” (Tech Law) do Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto da USP, conversaram com o USP Analisa desta sexta sobre esse assunto.
O tema começou a ser discutido com mais intensidade após o escândalo da Cambridge Analytica, no início de 2018, quando um aplicativo criado por um pesquisador da Universidade de Cambridge e intitulado “This is your digital life” conseguiu mapear as predileções de personalidade de usuários do Facebook, informações que foram utilizadas posteriormente para distribuição de conteúdo durante eleições em várias localidades.
“Muitos aplicativos hoje são disponibilizados nas redes sociais e, às vezes, de uma forma ingênua, eles se oferecem para envelhecer fotos ou disponibilizam testes aparentemente inofensivos. O “This is your digital life” pedia um consentimento nos seus termos – e os usuários não leem esses termos porque realmente são muito longos, cansativos – e lá constava que, ao fazerem login no aplicativo com a conta do Facebook, as pessoas consentiam que o criador da aplicação tivesse acesso aos seus contatos na rede social. Isso então escalou uma forma de coleta de dados pessoais que, de inicialmente uns 270 mil usuários, passou a representar 87 milhões de perfis que foram vasculhados pela aplicação”, explica Cíntia.
Atualmente, com a popularização de ferramentas de inteligência artificial, a preocupação vai além da coleta de dados e passa pela própria produção de conteúdo, já que algumas aplicações permitem produzir vídeos e áudios realistas utilizando o rosto e a voz das pessoas. Mesmo assim, Evandro destaca que tecnologias como essas ferramentas de edição e o Chat GPT podem ser usadas de forma positiva nas campanhas.
“Acho que há muitas maneiras do eleitor se beneficiar e ganhar informação, ganhar conhecimento sobre a plataforma do candidato, do partido. O candidato também pode, por exemplo, buscar auxílio no Chat GPT para a geração de um discurso, eventualmente resumir aquele discurso para fazer um vídeo curto para divulgar no YouTube, no Instagram. Enfim, implica até uma redução de custo com assessores, com redatores. Acredito que, no global, a gente sai com uma democracia mais fortalecida, com mecanismos desse tipo, acho que é uma grande vantagem que a computação está trazendo para nós, cidadãos”, diz ele.
Além dos professores Cíntia e Evandro, o podcast USP Analisa conversa com outra integrante do Grupo de Estudos TechLaw, a professora da FDRP Cristina Godoy Bernardo de Oliveira. O conteúdo pode ser acessado na íntegra nas plataformas de podcast Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts, Deezer e Amazon Music.
O programa é uma produção conjunta do Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto (IEA-RP) da USP e da Rádio USP Ribeirão Preto. Para saber mais novidades sobre o USP Analisa e outras atividades do IEA-RP, inscreva-se em nosso canal no Telegram ou em nosso grupo no Whatsapp.