Seguindo o compromisso de colaborar com o desenvolvimento de políticas públicas educacionais que contribuam com a melhoria da qualidade do ensino e o combate à desigualdade na educação, a Cátedra Sérgio Henrique Ferreira, do Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto da USP, teve uma expansão considerável de seu alcance no primeiro semestre de 2023. Um dos reflexos disso foi a parceria firmada com a Bett Brasil, organizadora do maior encontro de educação e tecnologia da América Latina.
A programação do evento, realizado em maio no Transamérica Expo, em São Paulo, contou com a curadoria de conteúdo da Cátedra e sua chancela nos certificados emitidos aos participantes. Ao todo, mais de 35 mil pessoas estiveram presentes nos quatro dias. Três painéis e um workshop com pesquisadores envolvidos nos projetos da Cátedra e ligados à USP Ribeirão Preto lotaram as salas.
As atividades abordaram temas como alfabetização, uso de dados na aprendizagem, desenvolvimento de educadores e educação integral. Entre os palestrantes estavam professores e pesquisadores de destaque no campus, como Elaine Paiva Assolini e Fabiana Versuti, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto; e Luiz Guilherme Scorzafave, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto.
Novo Ensino Médio
O titular da Cátedra, Mozart Neves Ramos, também participou de outras atividades. Ao lado da presidente da Associação Nacional de Educação Básica Híbrida, Maria Inês Fini; da diretora do Instituto Reúna, Kátia Smole; e da titular da Cátedra Instituto Ayrton Senna de Inovação em Avaliação Educacional, Maria Helena Guimarães de Castro, ele discutiu os desafios do Novo Ensino Médio.
O debate destacou a importância de dar prosseguimento ao trabalho de implantação do modelo nas redes de ensino em todo o país, o que já vem sendo feito desde o início de 2022. “Há uma grande responsabilidade em todas as instâncias. Revogar o Novo Ensino Médio é uma falta de compromisso com o Estado Democrático de Direito. Deve haver, sim, um aperfeiçoamento dele”, disse Maria Helena.
Kátia lembrou que a falta de condução do processo pelo Ministério da Educação, na época, impediu a criação de um mapa de implementação. Segundo ela, isso evitaria distorções, como a confusão entre disciplinas eletivas e obrigatórias, e ainda auxiliaria no planejamento necessário para a implantação – o que inclui a contratação de professores e a formação deles.
“Uma pesquisa feita recentemente pela Firjan SESI em parceria com o PNUD [Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento] mostrou que 500 mil jovens deixam a escola por ano. Isso reflete a desilusão desses estudantes com a escola. Precisamos desenvolver uma escola da escolha. Os itinerários formativos não podem ser retirados porque estão justamente relacionados a todos os aspectos desse modelo. E nenhum professor está preparado para essa escola da escolha. É justamente o mapa de implementação que vai ajudar a planejar a formação desse professor para essa finalidade”, disse.
Já Maria Inês abordou a discussão em torno de como adequar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) à nova realidade. Ela frisou a importância da Base Nacional Comum Curricular nesse processo e em outros aspectos do Novo Ensino Médio. “Se você olhar a BNCC e a base atual do Enem, vai ver que há correspondência. Ninguém vai inventar a roda, é preciso fazer o que já vem sendo feito. O referencial da BNCC é estruturante para tudo: avaliação, formação de professores e material didático”.
Uso de dados em educação
A participação da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira na Bett Brasil também destacou a importância do uso de dados para compreender a realidade educacional e desenvolver políticas públicas eficazes. Em palestra realizada em parceria com a Fundação Telefônica para integrantes da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Mozart ressaltou que é preciso fazer uma leitura cuidadosa dos indicadores educacionais e ir além dos números.
“Um dos grandes problemas da educação brasileira é aplicar a mesma política educacional para escolas inseridas em contextos diversos. É como aplicar o mesmo remédio para diferentes doenças. Dois municípios com o mesmo Ideb não têm necessariamente os mesmos problemas. Se os estudantes do município A alcançam nota 3,523 em português e 7,003 em matemática e os estudantes do município B alcançam nota 7,003 em português e 3,523 em matemática, eles podem até ter a mesma nota padronizada, mas as dificuldades da rede são diferentes”, explicou.
O titular da Cátedra lembrou também que nem sempre ampliar o investimento pode significar melhores resultados. Ele citou o caso do Ceará, cuja relação entre o Ideb e o PIB em 2019 mostrava que o estado obteve ótimos resultados em educação com um investimento inferior a muitos estados que tinham resultados piores. “É claro que, em algumas situações, ter mais dinheiro é realmente necessário. Por isso, quem trabalha com números, com esses indicadores, precisa aprender a olhá-los de forma sistêmica”.
Para munir os técnicos e gestores das secretarias municipais de educação com os conhecimentos necessários para essa capacidade de avaliação, Mozart explicou que pretende criar na Cátedra uma escola permanente de análise de dados. Ele citou o projeto piloto, realizado posteriormente em julho com 12 municípios parceiros com o apoio da Fundação Telefônica, e afirmou que pretende expandir a iniciativa. “Estamos começando com municípios mais próximos, mas talvez no futuro possamos contar com a parceria de entidades como a própria Undime para aumentar o alcance”, disse.
Workshop sobre dados
Ainda dentro da programação da Bett Brasil, os estudantes do curso de Matemática Aplicada a Negócios da USP Ribeirão Preto que integram a equipe da Cátedra, Leomar Silva e Larissa Maciel, ministraram o workshop “Uso e visualização de dados em educação”.
Diante de uma plateia composta por técnicos de secretarias de educação de municípios de estados como São Paulo, Mato Grosso e Sergipe, entre outros, eles abordaram a atuação da Cátedra, explicaram os estudos envolvendo a técnica de análise de componentes principais e mostraram alguns resultados do trabalho, como os mapas gerados a partir da avaliação dos dados, que facilitam a visualização do desempenho das escolas em uma perspectiva geográfica.
“A parte de visualização de dados desempenha um papel fundamental. Transmitir essa informação de maneira acessível é muito importante para o processo de tomar decisão com base em evidências”, destacou Leomar.
Para Larissa, a apresentação na Bett Brasil ampliou a visibilidade dos projetos da Cátedra junto a diversos públicos da área educacional. “Foi gratificante o reconhecimento e o feedback recebidos pelo nosso trabalho. Além disso, a troca de ideias com o público nos proporcionou novos insights para agregar ao projeto”.
Sobre a Cátedra
A Cátedra Sérgio Henrique Ferreira é uma iniciativa do IEA-RP financiada pelo Santander Universidades que mobiliza pesquisadores e instituições em torno da contribuição efetiva com políticas públicas em cidades de médio porte. Seu foco atual é a educação, integrando instituições e iniciativas locais para a melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem.
A Cátedra também desenvolve projetos com outros parceiros, como a B3 Social, a Fapesp e a Fundação Telefônica. Para saber mais informações sobre as atividades dela, inscreva-se no canal no Telegram, no grupo do Whatsapp ou em nossa newsletter.