Cultura de análise de dados aumenta autonomia e qualidade de políticas educacionais

O coordenador do IEA-RP, Antonio Costa Filho, com os titulares das cátedras Mozart Neves Ramos e Maria Helena Guimarães de Castro na abertura do curso "Introdução à análise de dados"
Por Marília Rocha – Assessoria de Comunicação da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira

Para utilizar bem os principais indicadores educacionais e selecionar as melhores fontes e métodos de coleta, visualização e interpretação das informações, as Secretarias de Educação precisam contar com técnicos preparados, com olhar crítico e qualificado. Mas nem sempre as redes de ensino conseguem ter profissionais dedicados a esta função, ou com atualização constante de conhecimentos. Por isso, a Cátedra Sérgio Henrique Ferreira do Instituto de Estudos Avançados da USP polo Ribeirão Preto lançou a nova edição do curso “Introdução à análise de dados educacionais”, concluído no início de julho como projeto piloto.

Para o desenho da formação, 12 secretarias municipais parceiras da Cátedra no Estado de São Paulo e mais duas organizações foram convidadas a indicar um representante de sua equipe técnica para participar presencialmente de três dias de atividades conceituais e práticas. Mais de 70% das redes participantes informaram que não possuem uma equipe dedicada à análise de dados. “Um dos desafios para o avanço na educação brasileira acontece quando damos respostas iguais para problemas diferentes, é preciso conhecer exatamente qual a causa do seu problema para dar uma resposta apropriada, e isso passa necessariamente pelo cuidado ao analisar dados”, afirmou o titular da Cátedra, Mozart Neves Ramos. “Os secretários de Educação precisam de suporte para a tomada de decisões, e é importante que esse suporte venha de análises técnicas, com conhecimento.”

Cultura de dados

Por conta desse cenário e da relevância do tema, um dos objetivos do curso é justamente buscar fortalecer a cultura de análise de dados na formulação de políticas educacionais. Segundo Rafael Naime Ruggiero, pesquisador e cientista de dados da Cátedra e responsável pela formação, quando uma secretaria possui essa cultura, ela valoriza e promove a utilização sistemática de dados para embasar a tomada de decisões, o que implica na conscientização sobre a relevância dos dados e da capacitação de profissionais para interpretar e utilizar efetivamente as informações derivadas deles.

“Observamos que os avanços em relação à cultura de utilização de dados na educação ainda são incipientes, por isso a Cátedra direciona parte de seus esforços para fornecer ferramentas técnicas e apoiar a formação de pessoal das secretarias”, contou. Segundo ele, em termos práticos é preciso que as redes tenham recursos para coleta ou acesso a dados, bem como para armazenamento e análise, além de estabelecer processos claros para a realização dessas atividades. “Ter um técnico mais familiarizado com a análise de dados permite uma compreensão mais aprofundada das informações disponíveis e também identificar tendências, padrões e insights valiosos que podem orientar ações e políticas educacionais mais efetivas”, afirmou Rafael.

De acordo com ele, entre as consequências positivas para o município, ter equipes capacitadas a realizar suas próprias análises aumenta a autonomia e agilidade na obtenção de informações relevantes, possibilita adaptação aos cenários particulares de cada região. A cultura da dados também amplia a capacidade crítica, de modo que a equipe pode identificar possíveis inconsistências ou limitações nas informações disponíveis, o que contribui para maior confiabilidade nos resultados e para a eficácia em todo o ciclo de política pública, desde o diagnóstico de um eventual problema até o monitoramento e avaliação das intervenções.

Familiaridade com o tema

Um questionário respondido previamente pelos participantes da formação permitiu identificar a familiaridade de cada um com os temas e sistemas utilizados no curso. Os gráficos a seguir mostram que o nível de conhecimento relatado pelos próprios participantes era, em média, intermediário ou básico. “Isso representou um desafio na preparação do curso, pois o conteúdo precisava ser estimulante para os participantes avançados, sem deixar para trás aqueles que estavam no início do aprendizado”, explicou Rafael.

Um questionário respondido previamente pelos participantes da formação permitiu identificar a familiaridade de cada um com os temas e sistemas utilizados no curso. Os gráficos a seguir mostram que o nível de conhecimento relatado pelos próprios participantes era, em média, intermediário ou básico. “Isso representou um desafio na preparação do curso, pois o conteúdo precisava ser estimulante para os participantes avançados, sem deixar para trás aqueles que estavam no início do aprendizado”, explicou Rafael.

Para sensibilizar todos os participantes sobre a importância do tema, a formação teve início com uma aula magna feita em conjunto por Mozart e a presidente da Associação Brasileira de Avaliação Educacional (Abave), Maria Helena Guimarães de Castro, também titular da Cátedra Instituto Ayrton Senna de Inovação em Avaliação Educacional no IEA-RP. Ambos falaram sobre a importância das avaliações para a educação brasileira.

“Avaliar é o processo de obter informações e formar juízos de valor a serem utilizados na tomada de decisões. Para isso, é preciso ter controle de qualidade: bases de dados confiáveis, metodologias elaboradas em bases científicas, clareza dos objetivos a serem alcançados, definição de referências, seleção de indicadores e mecanismos ágeis de divulgação”, completou Maria Helena, destacando a importância de ter bons sistemas estatísticos e buscar formatos adequados para uso dos resultados na melhoria da equidade com qualidade na educação.

Nos demais momentos de formação, a equipe da Cátedra apresentou diferentes fontes de dados educacionais e formas de visualização dos dados para gerar análises próprias. “Participar da formação foi de grande importância para o desenvolvimento de habilidades essenciais. A utilização de momentos teóricos e práticos foi fundamental para a efetividade da proposta, em especial, a utilização de sites governamentais para extrair dados”, contou Matheus Roque, gerente de parcerias institucionais da Fundação de Apoio e Desenvolvimento à Educação Básica de Mato Grosso do Sul (Fadeb-MS), associada à Secretaria de Educação para fomentar a equidade e qualidade da educação básica do Estado.

“Sabemos que o uso de computadores e recursos digitais nem sempre é fácil para todos, e com o curso presencial essa problemática foi rompida, possibilitando a troca de forma rápida e efetiva entre os alunos e os formadores”, analisou Matheus. Segundo ele, a equipe já está pensando em possibilidades de aplicação e multiplicação da formação recebida.

“Especialmente nos dias atuais, onde os recursos governamentais devem ser aplicados de forma transparente e eficiente, tomar decisões deve ser uma tarefa pautada em evidências. Por meio da formação, foi possível entender como esses dados podem ser extraídos de forma confiável dos sites e como podemos utilizá-los para mostrar informações relevantes”, afirmou a diretora de planejamento da Fadeb-MS, Marina Luz.

Integrantes das secretarias de educação durante o curso
Resultados e próximos passos

Como encerramento do curso, os participantes produziram um relatório sobre as mudanças nos indicadores educacionais de suas próprias redes, comparando 2019 com 2021. “Oferecemos a oportunidade de aplicar o conhecimento adquirido, consolidando todo o conteúdo e possibilitando que os participantes sigam realizando análises de estatística descritiva ao retornarem às suas secretarias para a resolução de problemas reais”, destacou Rafael. “Estamos entusiasmados em proporcionar essa oportunidade e acreditamos que estamos contribuindo para o desenvolvimento da cultura e do treinamento em análise de dados educacionais no país, de forma colaborativa e multiplicadora, podendo influenciar outras secretarias e municípios.” 

A proposta da Cátedra agora é sistematizar os aprendizados da equipe com o piloto da formação, identificar quais metodologias funcionaram melhor e qual a abordagem dos temas é mais acessível para todos. Assim, a formação inicial será aprimorada para possível abertura de novas turmas, ao mesmo tempo em que os participantes do projeto inicial possam ser acompanhados em formações continuadas, com módulos avançados.

Sobre a Cátedra

Cátedra Sérgio Henrique Ferreira é uma iniciativa do IEA-RP financiada pelo Santander Universidades que mobiliza pesquisadores e instituições em torno da contribuição efetiva com políticas públicas em cidades de médio porte. Seu foco atual é a educação, integrando instituições e iniciativas locais para a melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem. 

A Cátedra também desenvolve projetos com outros parceiros, como a B3 Social, a Fapesp e a Fundação Telefônica. Para saber mais informações sobre as atividades dela, inscreva-se no canal no Telegram, no grupo do Whatsapp ou em nossa newsletter.

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