Estudos em terapia celular podem gerar novos tratamentos contra o câncer

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Em 2019, um tratamento desenvolvido na USP Ribeirão Preto alcançou um resultado inédito na ciência brasileira e da América Latina. Médicos utilizaram células CAR-T, um tipo de célula do sistema imune geneticamente modificada, em um portador de um Linfoma não Hodgkin de células B e, após um mês, os exames mostraram que ele não possuía mais indícios da doença. Para entender melhor como foi o desenvolvimento dessa terapia, sua importância para as pesquisas brasileiras e que consequências isso terá para a saúde pública, o USP Analisa desta semana entrevista o médico hematologista e pesquisador do Centro de Terapia Celular (CTC) Renato Cunha.

Cunha, que também é coordenador do Serviço de Transplante de Medula Óssea e Terapia Celular do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP explica que as pesquisas que levaram ao desenvolvimento desse tratamento começaram há dez anos. Os estudos desenvolvidos no CTC envolveram desde os procedimentos feitos em laboratório até a aplicação nos pacientes. 

Apesar dos excelentes resultados alcançados com o tratamento, o médico explica que as células CAR-T não necessariamente representam a cura do câncer, já que cada tipo de câncer é uma doença diferente. “Quando nós fazemos a coleta das células T ou linfócitos T [células do sistema imune], levamos para o laboratório e lá a gente faz uma modificação. Essa célula recebe um novo receptor e agora passa a se chamar célula CAR-T. Para que serve esse receptor? Imagine que os tumores tenham fechaduras. No caso do nosso paciente, a fechadura dele chama-se CD19. O que nós fizemos foi desenhar uma chave que reconhece a fechadura CD19, portanto temos uma célula CAR T anti-CD19. Quando essa célula volta para o sangue do paciente, ela vai circular e onde tiver aquela fechadura, ela se conecta e mata o tumor. Todos os tumores e células do câncer que tiverem fechaduras CD19 podem ser tratados com o que nós desenvolvemos. Outros tumores não têm aquela fechadura CD-19, então nós precisamos conhecer essas fechaduras. Se eu conseguir conhecê-las, posso trocar a chave, fazer um novo receptor”.

Para que as pesquisas nesse sentido continuem, ele destaca que a continuidade do financiamento da ciência brasileira é fundamental. “A ciência é, sem dúvida alguma, o motor gigante que vai trazer as soluções para os nossos problemas. Investir em pesquisa é sinal de acreditar no futuro de uma nação. É claro que nós precisamos melhorar bastante nossa cultura para que a gente possa ter parcerias público-privadas que venham ajudar no financiamento da pesquisa. Mas, de uma maneira geral, o financiamento público é muito importante. Pesquisa não é um trabalho com fins lucrativos, o lucro da pesquisa é aquilo que se reverte em benefício para nossa sociedade. Então para ter centros de excelência com pessoas capacitadas e colaborações com centros internacionais, para que nós possamos ter transferência de tecnologia e boa formação de pessoas, esse substrato financeiro público é muito importante”. 

O programa vai ao ar nesta quarta (19), às 18h05, com reapresentação no domingo (23), às 11h30. O USP Analisa é uma produção conjunta do Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto (IEA-RP) da USP e da Rádio USP Ribeirão Preto.

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