Com a vacinação contra a covid-19 em curso no Brasil e em diversos países, a preocupação com a disseminação de notícias falsas, feitas principalmente por redes sociais, tem sido crescente entre autoridades de saúde e alguns segmentos da sociedade, já que elas trazem como consequência um desencorajamento das pessoas a se vacinarem.
A União Pró-Vacina (UPVacina) monitora desde 2019 os dois maiores grupos antivacina do Facebook no Brasil. Na análise mais recente, foram avaliados conteúdos publicados entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021, período marcado pelo início da vacinação contra a covid no mundo e também no Brasil.
O volume de publicações, em comparação com outras análises realizadas no ano passado, assusta: foram encontradas 368 publicações com conteúdos falsos sobre vacinas contra a covid-19, 111 delas postadas em dezembro e 257, em janeiro. Em análise anterior, realizada entre maio e julho de 2020, quando começaram os testes dos imunizantes no Brasil, o número de publicações mensais alcançava, no máximo, 87.
A análise demonstra que o posicionamento do Facebook em dezembro, afirmando que iria remover postagens que trouxessem alegações falsas sobre vacinas contra a covid-19, não teve efeito prático nesses grupos.
O que se viu, foi a continuidade dessa disseminação. Até mesmo a marcação de conteúdo falso foi falha: apenas 7,6% das publicações analisadas pela UPVacina entre dezembro e janeiro continham um alerta.
Os dados
O período com mais publicações (39,7%) foi na segunda quinzena de janeiro, período que coincide com a aprovação, pela Anvisa, das vacinas Coronavac, do Instituto Butantan, e Covishield, da Universidade de Oxford, e com o início da vacinação contra a covid-19 no Brasil.
As postagens mencionam, em sua grande maioria, o suposto perigo das vacinas (45,1%), além de referências a diversas teorias da conspiração (19%), a falsas aplicações em personalidades de destaque, como o prefeito de Londres, Sadiq Khan (11,7%), e outras desinformações já usadas anteriormente pelos grupos antivacina, como alteração do DNA humano pelas vacinas (5,7%), conspirações políticas envolvendo os imunizantes (4,9%), ausência de eficácia (4,3%) e uso de fetos abortados na fabricação desses produtos (3,3%).
A análise identificou uma mudança de foco na temática das publicações. Se até 2020 predominavam teorias da conspiração sobre as vacinas contra a covid, agora, com a vacinação em curso, as postagens destacam falsos casos de mortes ou de reações graves, criando uma narrativa que incita o medo na população.
Para tentar atingir esse objetivo, as postagens utilizam principalmente vídeos (41,6%), links (24,5%), imagens (22%) e textos (11,7%). A maior parte está em português (71,2%), mas há ainda materiais em inglês (19,8%), espanhol (7,1%) e outros idiomas (1,9%).
O volume de interação dos participantes dos grupos com o conteúdo segue alto. As 368 postagens de dezembro e janeiro obtiveram 3.942 reações, 1.313 comentários e 2.372 compartilhamentos. A quantidade de posts por autor também chama a atenção: 126 autores foram responsáveis por todas postagens, porém, apenas 16 deles responderam por quase metade das publicações (48,10%).
Mais atualizações
No início de fevereiro, o Facebook atualizou novamente suas diretrizes e afirmou que removeria grupos, páginas e contas que compartilhassem repetidamente informações falsas sobre covid-19 e vacinas. Apesar de tardia, a iniciativa surtiu efeito: desde o dia 10, o grupo antivacina brasileiro mais ativo não pode mais ser acessado na plataforma. Ainda assim, o outro grupo, que soma seis anos de atuação, segue disseminando conteúdo falso e novas páginas com essa temática continuam a surgir e crescer.
Sobre a União Pró-Vacina
A União Pró-Vacina é uma iniciativa articulada pelo Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto da USP em parceria com diversas instituições científicas e acadêmicas. O objetivo do projeto é produzir material informativo sobre a importância das vacinas e combater as informações falsas.
Saiba mais em: sites.usp.br/iearp/uniao-pro-vacina.