Cátedra apresenta estudos com dados de leitura em Ribeirão Preto

Cátedra apresenta estudos com dados de leitura em Ribeirão Preto
O titular Mozart Neves Ramos e a equipe da Cátedra durante reunião com o secretário de Educação de Ribeirão Preto Valdir Martins e a equipe da secretaria

A nova gestão da rede municipal de ensino de Ribeirão Preto já está recebendo contribuições da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira, do Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto da USP. Desde o início das atividades, há cinco anos, a Cátedra sempre realizou estudos focados no município, visando contribuir com a garantia da aprendizagem e a redução de desigualdades no desempenho dos estudantes. Neste início de gestão, uma nova análise preliminar foi compartilhada com a equipe da Secretaria de Educação, com foco na fluência leitora nos Anos Iniciais do Fundamental e no atendimento da Educação Infantil.

O levantamento inicial identifica como se deu a expansão das taxas de cobertura nas redes pública e privada, a evolução do número de docentes nas unidades de Educação Infantil e outras informações. Em 2022, por exemplo, o número de pré-escolas privadas estava em quase o triplo das pré-escolas municipais, mas o número de matrículas chegava a quase o dobro nas municipais do que nas escolas privadas. Além disso, os dados mostram maior concentração de escolas municipais nas zonas Norte e Oeste.

De acordo com a equipe responsável pelo levantamento, o cruzamento dessas informações com dados demográficos e socioeconômicos pode indicar áreas com maior demanda potencial por Educação Infantil, contribuindo para o planejamento de políticas públicas mais equilibradas e equitativas. “Agora, queremos conectar essas informações com outras para analisar as trajetórias dos estudantes. A compreensão territorial da cobertura na Educação Infantil, identificando os diferentes contextos de entrada, pode contribuir muito para a melhoria futura da fluência leitora, por exemplo”, registrou Leomar da Silva, analista de dados da Cátedra.

O secretário de Educação de Ribeirão Preto, Valdir Martins, valorizou a iniciativa e destacou a importância de aprofundar os estudos. “Percebemos que a questão econômica tem um papel muito importante, e regiões com mais desafios socioeconômicos tendem a ter resultados piores, mas pudemos ver no levantamento escolas que se destacam e isso é muito positivo, queremos conhecer a compartilhar as práticas que elas têm implementado”, afirmou. “Sem dúvida, vai ser muito importante levar adiante esse trabalho e prosseguir com o apoio da Cátedra. Isso é fundamental para aprofundar nosso entendimento sobre a rede e ter subsídio para definições de políticas públicas na área.”

Fluência Leitora reflete desigualdade na rede

Cátedra apresenta estudos com dados de leitura em Ribeirão Preto
O analista de dados da Cátedra Leomar Silva durante a apresentação

Observando os resultados de fluência leitora do 2º ano do Ensino Fundamental, ao início e final do ano letivo de 2023, os dados indicam que, embora ocorra uma melhora geral ao longo do período, os estudantes iniciam e terminam o 2º ano com níveis bastante distintos de proficiência leitora, sem um padrão homogêneo entre as escolas da rede. 

Entre as 29 escolas analisadas, aquelas com maior percentual de leitores na entrada têm entre 74% e 85% de alunos com níveis mais consolidados de fluência. Na outra ponta, escolas com percentuais mais baixos estavam entre 27% e 21% de alunos com fluência (uma diferença de 64 pontos percentuais entre a escola com maior e a com menor percentual de leitores na entrada). Na saída, há escolas que ultrapassam 80% de alunos com fluência leitora, chegando até a 90%, mas ainda observam-se unidades com menos de 50%, chegando a casos de 36% e 33% de alunos leitores (uma diferença de 57 pontos percentuais entre a escola com maior e a com menor percentual de leitores na saída).

Deste modo, a média geral de fluência leitora entre todas as escolas chegou a 60,2% ao final do 2º ano, representando uma elevação de aproximadamente 9,4 pontos percentuais na média geral, em relação aos dados do início do ano letivo. No entanto, os dados ainda passarão por análises mais detalhadas, dadas algumas inconsistências internas, especialmente referente a três unidades que supostamente tiveram uma queda no percentual de leitores entre a entrada e a saída, o que demanda investigação mais aprofundada e até mesmo reconhecimento dos desafios específicos que podem ocorrer nas unidades, como mudanças de equipe, ausência de continuidade pedagógica ou fatores externos.

Outra leitura preliminar realizada indica também que escolas com percentuais mais elevados de alunos leitores já na entrada do 2º ano tendem a manter resultados estáveis ao longo do ano, e podem desempenhar uma relação mais significativa com o desempenho posterior, tanto em Língua Portuguesa quanto em Matemática no 5º ano. Novos estudos também serão realizados para investigar se de fato a leitura no início do 2º ano tem maior impacto nos resultados posteriores, o que reforça a importância de identificar as boas práticas, tanto do projeto de alfabetização daquelas escolas com maior salto, como também das unidades de Educação Infantil de onde vieram os alunos com maior preparo para a alfabetização nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. 

“O dado parece mostrar a importância da fluência na entrada do 2º ano, talvez porque ao final tenha menor dispersão entre os alunos graças ao programa de alfabetização nas escolas. De todo modo, podemos analisar de onde estão vindo os alunos com mais fluência leitora, identificar pré-escolas que estão levando os alunos a chegar com maior predisposição para a alfabetização e valorizar as práticas que são promovidas ali, compartilhando com toda a rede, por exemplo”, avaliou o titular da Cátedra, Mozart Neves Ramos. “Mas são as primeiras evidências, que trazem alguns insights. Gostaríamos de seguir análises para verificar se a correlação se confirma, e verificar a tendência temporal. A Secretaria pode, com o apoio da Cátedra, se debruçar mais sobre essas informações para desenhar algumas políticas voltadas à alfabetização de todos os estudantes.”

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