Ação do homem está criando nova era geológica

Em entrevista ao USP Analisa, o docente do IF-USP Paulo Artaxo fala do Antropoceno e das mudanças climáticas no planeta

Eventos climáticos extremos, como furacões, secas e enchentes estão cada vez mais frequentes. Seriam eles uma prova de que a ação do homem está afetando o clima do planeta? Para discutir as mudanças climáticas e as consequências delas na vida das pessoas, o USP Analisa desta semana conversa com o docente do Instituto de Física da USP Paulo Artaxo.

Segundo ele, a ação do ser humano está criando uma nova era geológica, o Antropoceno. “A história do nosso planeta sempre foi marcada por alterações geofísicas e geológicas que orientaram a evolução da vida. Isso até o início da Revolução Industrial, em torno de 1850, quando o homem começou a queimar combustíveis fósseis. Com isso, ele ganhou uma possibilidade de alterar a composição da atmosfera, o que afeta diretamente o clima do planeta. A ação do homem está tendo um efeito similar às alterações geofísicas e geológicas que ocorreram ao longo da história do planeta, alterando o clima”, explica.

Artaxo explica que a temperatura do planeta já se aqueceu um grau, em média, o que significa um aumento de dois graus em áreas continentais. Isso explica alguns fenômenos naturais recentes. “Esse aumento de dois graus é uma quantidade imensa de energia no sistema, que é dissipada na forma de furacões, como temos visto ultimamente. Também estamos alterando o padrão de chuvas. Eventos climáticos extremos sempre existiram, mas as mudanças climáticas globais intensificam esses eventos. Temos que preparar o País para essa nova realidade climática que está aparecendo. Isso vai requerer boa ciência e integração entre sociedade e governo”, afirma ele.

Outro tema estudado pelo docente são os aerossóis, partículas que ficam em suspensão na atmosfera e interferem na produção de nuvens. “Elas têm papel fundamental na regulação climática. Seu tamanho faz com que espalhem muito eficientemente a radiação solar, resfriando a superfície do planeta. Estudamos o papel dessas partículas no balanço da radiação e nos mecanismos de formação de nuvens. Além disso, essas partículas carregam fósforo, nitrogênio e material carbonáceo, por isso afetam os ciclos biogeoquímicos dos nutrientes, que são essenciais, por exemplo, para a Floresta Amazônica. Existem aspectos científicos pouco conhecidos sobre o papel dessas partículas”, diz o docente.

De acordo com Artaxo, em grandes cidades, os aerossóis podem ter um efeito negativo na saúde da população. Já em ambientes naturais, eles podem interferir até na fotossíntese das plantas. “As emissões de queimadas na Amazônia, por exemplo, têm um papel negativo na saúde da população e na fotossíntese da floresta que não foi queimada. Quando essas partículas vão para a atmosfera, elas absorvem luz solar e reduzem o fluxo de radiação disponível para as plantas fazerem fotossíntese. Com isso, a floresta cresce menos, faz menos fotossíntese e absorve menos dióxido de carbono da atmosfera. Isso impede a realização de um importante serviço ambiental”, explica.

A entrevista vai ao ar na Rádio USP Ribeirão Preto nesta sexta (10), a partir das 12h, e na Rádio USP São Paulo na quarta (15), a partir das 21h. O USP Analisa é uma produção conjunta da USP FM de Ribeirão Preto (107,9 MHz) e do Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto (IEA-RP) da USP.

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