* Texto de Marília Rocha – Assessoria de Comunicação da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira
Quase mil educadores de escolas públicas do Mato Grosso do Sul e das secretarias de Educação de 73 municípios do Estado participaram do seminário de encerramento do Ciclo “A BNC das Competências Gerais do Diretor Escolar”. A iniciativa é parte da parceria entre a Secretaria de Estado de Educação do Mato Grosso do Sul, a Fundação de Apoio e Desenvolvimento à Educação Básica (Fadeb/MS) e a Cátedra Sérgio Henrique Ferreira do Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto da USP.
O objetivo do ciclo de seminários formativos foi propiciar a disseminação de conhecimentos e reflexões e estimular o debate sobre quais os caminhos para que diretores desempenhem o papel de lideranças em todas as dimensões deste papel. Apesar de inúmeras pesquisas indicarem a extrema relevância desse profissional – uma escola com um diretor que demonstra as competências da liderança escolar gera forte impacto no desempenho dos estudantes e no clima escolar – ainda existem desafios para compreender essas competências e as formas de promover o fortalecimento delas na atuação dos diretores.
Esse foi o principal tema do primeiro curso desenhado para a parceria, que teve início em março deste ano e já está na quarta turma. “Quando a professora Cecília Motta nos propôs oferecer o curso para todos os diretores escolares da rede pública de Mato Grosso do Sul ficamos assustados e desafiados. Mas graças ao trabalho em colaboração conseguimos cumprir a missão com grande êxito”, declarou o titular da Cátedra, Mozart Neves Ramos.
“Atentos a todas as reflexões sobre a importância da formação dos gestores escolares, e sabendo que um bom gestor impacta muito na aprendizagem dos estudantes, desenhamos a proposta dessa formação para educadores do Estado e dos municípios, unidos por um mesmo propósito”, afirmou Cecília Motta, diretora-presidente da Fadeb. “Muitos me disseram que o curso trouxe muito embasamento para atuar na escola, com a responsabilidade que sabemos que vem com o cargo e é enorme. Temos reivindicações para que os cursos continuem, a gente vai investir muito na formação do gestor”.
Durante o Seminário de encerramento, o secretário de Educação do Estado, Helio Queiroz Daher, que também já foi gestor escolar, destacou alguns dos desafios da profissão. “Na maior parte das organizações ou órgãos públicos, se você chega com algum pedido de ajuda, não é o diretor que vai te atender diretamente. Mas na escola sim, quem acolhe cada família precisando de amparo é o próprio responsável pela unidade”, destacou. “Não há nada que se iguale aos desafios da gestão escolar, de ser uma mola entre aquilo que a política pública determina e a necessidade de cada escola, de cada família”.
Fundamentação em pesquisas
Entre março e agosto deste ano, cerca de 1.700 cursistas acompanharam os ciclos de seminários, nas quatro turmas montadas conforme a disponibilidade dos participantes. Além do Mato Grosso do Sul, também realizaram o curso educadores do interior de São Paulo, do Paraná e de Alagoas, por meio de parceria com a Cátedra Sérgio Henrique Ferreira. A formação envolveu um conjunto de práticas diferenciadas, com palestras e atividades realizadas ora no modelo presencial, ora remoto, e também com produção de materiais que puderam ser acessados e utilizados pelos participantes de forma assíncrona, ou seja, conforme a possibilidade e rotina do cursista. Para a conclusão e certificação, todos apresentaram um trabalho final.
As discussões do ciclo foram pautadas pela visão de Competências Gerais do Diretor Escolar, conforme o parecer do Conselho Nacional de Educação relatado, na época, por Mozart e encaminhado ao Ministério da Educação em 2021. Também foram utilizados como base os estudos realizados por pesquisadores ligados à Cátedra, atualizando a perspectiva sobre o que se espera de um gestor escolar no contexto atual: mais do que um administrador, o diretor é uma liderança que constrói uma visão para a organização escolar, implementando uma cultura local. Por meio de suas competências, esse educador faz a gestão de equipe, gestão pedagógica, relacionamento com a comunidade em torno da escola, entre outras atribuições.
O secretário estadual também destacou a relevância de contar com apoio da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira para a formação. “É uma grande honra ter a USP conosco. Sabemos que em muitos lugares ainda há dificuldade para sentar todo mundo junto – governo, sociedade civil e universidade -, mas aqui estamos conseguindo fazer isso acontecer. Podemos mostrar a diferença que faz quando temos todas as esferas unidas na formação dos educadores”, defendeu Helio Daher.
No evento de encerramento, realizado no início de agosto, o superintendente executivo do Instituto Unibanco, Ricardo Henriques, apresentou reflexões sobre o papel das lideranças escolares para a busca de melhores resultados, a importância de desenvolver gestores atentos aos desafios e possibilidades de promoção do direito à educação para todas as pessoas.
“No Brasil todo, temos muitas iniciativas excelentes sendo feitas, mas em média ainda vemos muitas redes de ensino com resultado aquém do seu potencial. Entre outras coisas, está nos faltando redefinir a prática da gestão escolar, e precisamos fazer isso logo, se quisermos transformar de forma significativa o padrão de resultados que apresentamos”, afirmou Ricardo Henriques.
Ele lembrou que temos, no País, uma forte cultura de planejamento, bons projetos político-pedagógicos, intensa execução e implementação de iniciativas o tempo inteiro, além de um excelente sistema de avaliação, com robustos instrumentos, práticas e sistemas em âmbito municipal, estadual e nacional. “Mas, apesar de tudo isso, temos enormes dificuldades para aprender com os erros e agir sobre eles. A mudança de mentalidade precisa desse ponto de reconhecimento: se aquilo que planejamos não gerou o efeito que a gente precisava, vamos entender por que isso aconteceu e o que fazer? E se gerou o que a gente precisava, como melhorar e ir além?”, defendeu.
A formação em serviço e o compartilhamento de boas práticas foram apontados por ele como essenciais para a conquista de um novo patamar de gestão. “Para colocar o Brasil na primeira liga das nações na era do conhecimento, temos que promover o desenvolvimento de competências para uma gestão que cria condições para um avanço contínuo. Um bom gestor tem forte compromisso com a autorregulação e em dar um salto no seu desenvolvimento porque ele sabe que, se der esse salto, a escola dá um salto também.”
Depoimentos de participantes
No evento, três secretárias municipais de educação receberam o certificado de conclusão do curso, representando cerca de 15 gestores que também se inscreveram para a formação nos últimos meses, ao lado de técnicos das secretarias, coordenadores pedagógicos, diretores adjuntos e diretores de escolas municipais e estaduais.
“Não dá para parar, nós educadores temos que continuar a aprender e estudar, sempre. O curso mostrou aos gestores escolares a importância da formação, do conhecimento para uma boa gestão. O diretor escolar, ainda que tenha tantas tarefas, precisa ter o conhecimento pedagógico para que possa acompanhar o aprendizado dos estudantes”, defendeu a secretária municipal de Esporte, Cultura e Educação de Caarapó, Ieda Maria Marran. “Esse curso nos deu uma guinada. Desde o início, houve uma grande mudança, os debates são com fundamentos, foram momentos riquíssimos de grande aprendizado e algumas coisas jamais esqueceremos”.