Uma planta milenar, com mais de 500 compostos químicos, que é grande fonte de fibras e tem histórico de usos medicinais, industriais e até religiosos. Não parece, mas estamos falando da maconha, cujo uso medicinal é estudado no Brasil e no mundo desde os anos 80 e pode ter efeito benéfico em casos de epilepsia, ansiedade, Parkinson e até autismo. No USP Analisa desta semana, você ouve a segunda parte da entrevista especial com o pesquisador da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP Rafael Guimarães dos Santos, que conta um pouco sobre o histórico desse vegetal, o papel de compostos como o canabidiol (CBD) e o tetrahidrocanabinol (THC) e detalha como estão as pesquisas atuais sobre eles no Brasil, país que se destaca na produção científica sobre canabidiol.
Santos conta que até a década de 1940, extratos medicinais de maconha ainda faziam parte da farmacopeia (espécie de código oficial farmacêutico) nos Estados Unidos. “Foi justamente na época dos anos 40, 50 e 60, quando começaram a aparecer fármacos purificados na indústria farmacêutica, que esses compostos da maconha de pouca padronização foram ficando de lado”, explica.
Na década de 70, o crescimento do uso pelos jovens, inspirados pelo movimento hippie, e estudos mostrando uma série de efeitos adversos levaram à proibição do uso. Mas as décadas seguintes trouxeram a substância de volta à discussão no âmbito medicinal, com estudos desenvolvidos em Israel sobre os endocanabinóides, produzidos pelo próprio corpo humano.
“O canabidiol, durante a maior parte desse tempo, era uma molécula desconhecida. Ele foi isolado em 1940, mas ficou meio ali na gaveta. Na década de 60, o THC foi isolado pelo grupo do professor Rafael Mechoula e começou a haver um enfoque maior nele e nos efeitos adversos. Só no final dos anos 1970, 1980 que o CBD começa a aparecer. Os brasileiros têm um papel importante nesse nascimento da pesquisa com canabidiol. Professores como Elisaldo Carlini, da Unifesp, e Antônio Zuardi, aqui da FMRP-USP, começaram a fazer os primeiros estudos com canabidiol em animais no final da década de 70”, conta o pesquisador.
Hoje, segundo ele, a USP é a que mais produz ciência em canabidiol no mundo, numericamente falando. “Realmente somos pioneiros, os primeiros estudos do mundo sobre efeitos antipsicóticos e ansiolíticos do canabidiol em seres humanos são aqui do nosso grupo”.
A segunda parte da entrevista vai ao ar nesta quarta (2), a partir das 18h05, com reapresentação no domingo (6), às 11h30. O programa também pode ser ouvido pelas plataformas de streaming iTunes e Spotify.
O USP Analisa é uma produção conjunta do Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto (IEA-RP) da USP e da Rádio USP Ribeirão Preto. Para saber mais novidades sobre o programa e outras atividades do IEA-RP, inscreva-se em nosso canal no Telegram.