Ciência foi deixada de lado na COP-26, diz especialista

Ciência foi deixada de lado na COP-26, diz especialista

Realizada em novembro na Escócia, a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-26) reuniu representantes de 196 países. Na pauta, temas como desmatamento, efeito estufa, neutralidade de carbono e o futuro do clima do planeta. Para traçar um panorama sobre os compromissos assumidos no encontro e discutir também a política ambiental brasileira, o USP Analisa desta semana conversa com o professor do Instituto de Física da USP e integrante do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas das Nações Unidas, Paulo Artaxo. 

Ele destaca que, mais uma vez, a ciência foi deixada de lado em relação aos interesses geopolíticos dos países participantes. “Os resultados da COP-26, que estão expressos no chamado Pacto Climático de Glasgow, no documento final da reunião, deixam muito a desejar do ponto de vista das recomendações da ciência e do IPCC. Infelizmente, se todos os países cumprirem os seus compromissos até o momento, o nosso planeta ainda vai se aquecer em torno de 2,7°C, em média. Isso leva para regiões como o interior do Brasil um aquecimento da ordem de 3,5 a 4°C, o que é muita coisa”, explica ele.

Apesar disso, Artaxo afirma que duas decisões foram muito importantes nesse encontro: os compromissos de reduzir em 30% as emissões de metano, um dos gases responsáveis pelo efeito estufa, e de zerar o desmatamento das florestas tropicais até 2030. Para ele, o Brasil tem plenas condições de cumprir essa última meta.   

“O Brasil já reduziu rapidamente o desmatamento de florestas tropicais de 2003 até 2011, então isso é possível. A ciência já sabe como fazer isso e nós temos a legislação para fazer isso. O que nós precisamos é de um governo que realmente cumpra os seus compromissos com a sociedade brasileira e o compromisso do Acordo de Paris. É possível tecnicamente, politicamente e cientificamente zerar o desmatamento com enormes benefícios para o agronegócio, que vai ver a restauração dos serviços ecossistêmicos, em particular a chuva, que irriga as áreas de pastagem e as áreas onde nós temos, por exemplo, plantações de soja, o que vai aumentar produtividade agrícola brasileira e preservar a biodiversidade, fator riquíssimo para a sociedade brasileira com potencial enorme de ser explorado”, diz Artaxo.

A entrevista vai ao ar nesta quarta (8), a partir das 18h05, com reapresentação no domingo (12), às 11h30. O programa também pode ser ouvido pelas plataformas de áudio iTunes e Spotify

O USP Analisa é uma produção conjunta do Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto (IEA-RP) da USP e da Rádio USP Ribeirão Preto. Para saber mais novidades sobre o programa e outras atividades do IEA-RP, inscreva-se em nosso canal no Telegram.

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