Facções profissionalizaram o crime no Brasil

Facções profissionalizaram o crime no Brasil

A dinâmica criminal no Brasil foi fortemente alterada pelo surgimento de facções criminosas a partir do final dos anos 70. As atividades antes restritas a pequenas quadrilhas passaram a ter um caráter muito mais profissional com a atuação de grupos como o Primeiro Comando da Capital, o PCC, em São Paulo, e o Comando Vermelho, no Rio de Janeiro. No USP Analisa desta semana, dois pesquisadores do Núcleo de Estudos da Violência da USP, a professora da Universidade Federal do ABC, Camila Nunes Dias, e o jornalista Bruno Paes Manso, ajudam a entender o funcionamento dessas organizações.

Camila explica que um dos principais mapeamentos das facções é feito pela Secretaria Nacional de Políticas Penais, a Senapen, que identificou 88 delas na última edição – mas o número pode variar a cada ano. “Esse número é composto por grupos muito distintos entre si, e todos são enquadrados nessa rubrica de facção porque ostentam uma identidade e muitas vezes compartilham alguns símbolos de pertencimento. Na maioria das vezes, têm presença no sistema prisional e também atuam no tráfico, no varejo, principalmente fora das prisões, embora sejam muito diferentes”, explica ela.

Bruno explica que a origem das facções data de 1979, com a formação da Falange Vermelha, que se transformaria no Comando Vermelho. Alguns anos depois, surge o Terceiro Comando, que travaria uma disputa territorial com o CV ao longo dos anos 80 no Rio de Janeiro. Em São Paulo, pequenos grupos travavam confrontos violentos nas periferias, o que foi amenizado a partir de 1993, com a criação do PCC, que ajudou a mediar os conflitos e profissionalizar a cena do crime a partir do interior das prisões.

“Então você tem um crime mais profissional, mais pacificado, ganhando muito dinheiro. E isso de alguma maneira se espalha muito rapidamente a partir dos anos 2000. Principalmente depois de 2006, a partir do surgimento do Sistema Federal, das migrações e da punição de algumas lideranças em outros Estados, você começa a espraiar essa ideia e esse modelo vira um padrão bem sucedido de gestão do crime para lidar com a prisão. E aí você tem esse crescimento muito acelerado a partir do interior do sistema penitenciário”, conta o jornalista.

O USP Analisa é quinzenal e leva ao ar pela Rádio USP às quintas-feiras, às 16h40, um pequeno trecho do podcast de mesmo nome, que pode ser acessado na íntegra nas principais plataformas de podcast.
O programa é uma produção conjunta do Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto (IEA-RP) da USP e da Rádio USP Ribeirão Preto. Para saber mais novidades sobre o USP Analisa e outras atividades do IEA-RP, inscreva-se em nosso canal no Telegram ou em nosso grupo no Whatsapp.

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