Especialistas discutem influência das facções criminosas na política

Especialistas discutem influência das facções criminosas na política

Durante as eleições de 2024, vários foram os registros da influência de facções criminosas no pleito, seja financiando candidatos ou mesmo se envolvendo em licitações nos governos municipais. O USP Analisa desta semana discute os reflexos dessa interferência e se isso pode levar o Brasil a se tornar um narcoestado. Os entrevistados são a professora da Universidade Federal do ABC, Camila Nunes Dias, e o jornalista Bruno Paes Manso, pesquisadores do Núcleo de Estudos da Violência da USP.

Segundo Camila, o termo “narcoestado” sofre críticas no âmbito das Ciências Sociais por ter uma disputa política e ideológica embutida em seu significado. Ela explica que os Estados Unidos e os países europeus utilizam esse termo para classificar alguns países, porém os grupos criminosos que estão no poder nesses locais são muitas vezes financiados por ações de órgãos como a CIA, agência estadunidense de inteligência.

“Se a gente observar alguns países, aparentemente eles têm uma influência mais forte de grupos criminais nos seus governos. Acho que a Colômbia foi um exemplo clássico nos anos 90, o México é ainda um exemplo, além de outros países menores da América Central, da África e da Ásia”, diz ela.

No caso do Brasil, Camila acredita que a presença do dinheiro do crime na política já é realidade há algum tempo. “De um lado, isso já ocorre há mais tempo porque nas bases, na periferia, onde as facções estão presentes, ali também circulam políticos, vereadores, prefeitos. Então essa proximidade já existe há muito tempo a partir desses espaços compartilhados. Mas eu acho que o que aconteceu mais recentemente é que você tem um volume maior de recursos disponíveis, digamos assim, e disponíveis para serem investidos, fluindo do âmbito dos negócios ilícitos para os negócios lícitos e também para a política”.

Para Bruno, grupos criminosos ligados ao tráfico de drogas elegem candidatos para favorecer seus interesses e fragilizar a capacidade de fiscalização do Estado. “A gente vê isso no Rio de Janeiro, no caso das milícias, a dificuldade que é eleger alguém da oposição. Por mais popular que seja um candidato, é difícil você mudar o esquema porque todo mundo se vê na perspectiva de faturar dentro desse esquema”.

O USP Analisa é quinzenal e leva ao ar pela Rádio USP às quintas-feiras, às 16h40, um pequeno trecho do podcast de mesmo nome, que pode ser acessado na íntegra nas principais plataformas de podcast.
O programa é uma produção conjunta do Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto (IEA-RP) da USP e da Rádio USP Ribeirão Preto. Para saber mais novidades sobre o USP Analisa e outras atividades do IEA-RP, inscreva-se em nosso canal no Telegram ou em nosso grupo no Whatsapp.

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