O fenômeno da desinformação traz uma preocupação crescente, principalmente em relação aos mais jovens. Segundo pesquisa conduzida pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) com estudantes brasileiros avaliados pelo PISA em 2018, sete em cada dez adolescentes de 15 anos não conseguiam distinguir fatos de opiniões. Preparar esses jovens para interpretar melhor o mundo e assim conseguir lidar com a desinformação é uma das possibilidades que a educação midiática traz. Por isso, o USP Analisa abre sua temporada 2024 discutindo esse tema com o professor da Escola de Comunicação e Artes da USP e fundador do Núcleo de Comunicação e Educação da USP, Ismar de Oliveira Soares, e a presidente do Instituto Palavra Aberta, Patrícia Blanco.
O docente da ECA explica que a expressão “educação midiática” – do inglês media education – tornou-se título de um programa da Unesco, em 1980, voltado a incentivar a implementação de práticas de análise da mídia por 19 países que haviam assinado a Declaração de Grünwald. Porém, ao avaliar esse programa 30 anos depois, a entidade chegou à conclusão de que havia sido um grande fracasso, já que poucos países haviam adotado a ideia, entre eles Canadá, Inglaterra, França, Austrália e Estados Unidos.
“A partir de 2010, a Unesco revigora esse programa, cria manuais para isso e une os conceitos de mídia e informação, criando o termo media and information literacy (MIL). Anteriormente, se estudava a literacia sobre a informação e a educação para a mídia e essas áreas não se encontravam muito, eram muito conflituosas, os responsáveis por elas não queriam que houvesse ingerência. A Unesco, a partir de experiências nos Estados Unidos e no Caribe, então adota o conceito de media and information literacy e cria um grande programa de aliança em torno da educação midiática. E cria também coordenações regionais nos continentes a respeito disso. Hoje a Unesco está tão presente no mundo que é capaz de organizar as semanas globais mundiais de MIL, que têm repercussão internacional”, explica ele.
Patrícia define a educação midiática como o desenvolvimento de habilidades para acessar, analisar, criar e participar de maneira crítica do ambiente informacional e midiático em todos os seus formatos, do online ao offline.
“Ela é fundamental para combater a desinformação na medida em que se oferece, principalmente para o aluno, o entendimento crítico da informação que ele recebe, para que ele possa ter habilidades e ferramentas de interpretar corretamente aquela informação, perguntando, questionando o propósito, o objetivo, o motivo, o porquê daquela informação que chega até ele. Mas ela vai além. A educação midiática, num contexto amplo e que é onde a gente precisa avançar, prepara não só para combater a desinformação, mas também para o exercício pleno da cidadania e da liberdade de expressão”, afirma ela.
O USP Analisa é quinzenal e leva ao ar pela Rádio USP nesta sexta, às 16h45, um pequeno trecho do podcast de mesmo nome, que pode ser acessado na íntegra nas plataformas de podcast Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts, Deezer e Amazon Music.
O programa é uma produção conjunta do Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto (IEA-RP) da USP e da Rádio USP Ribeirão Preto. Para saber mais novidades sobre o USP Analisa e outras atividades do IEA-RP, inscreva-se em nosso canal no Telegram ou em nosso grupo no Whatsapp.