De ciências, comunicação e futebol: a espiral da cultura científica

O conjunto de fatores, eventos e ações do homem nos processos sociais voltados para a produção, a difusão, o ensino e a divulgação do conhecimento científico constitui as condições para o desenvolvimento de um tipo particular de cultura, de ampla generalidade no mundo contemporâneo, a que se pode chamar de cultura científica. A representação da dinâmica desse espaço do conhecimento, expresso como uma cultura científica específica pode ser feita na forma de uma espiral que acompanhando o desenvolvimento da ciência através das instituições, ações e atores voltados para a sua prática e produção, contribua para visualizar e entender o que há de comum e, dessa forma, definir esse espaço do conhecimento.

O objetivo ideal do divulgador da ciência é que o conhecimento científico, como fenômeno cultural parte, pois, fundamental da cultura científica própria do mundo contemporâneo, possa ser tratado e vivenciado como o futebol. Nesse caso, embora sejam poucos os que efetivamente o jogam, são muitos, na verdade, os que o entendem, conhecem suas regras, sabem como jogar, são críticos de suas realizações, com ele se emocionam e são por ele apaixonados. Nem todos somos cientistas, como não são muitos os que jogam futebol, profissional e competentemente. Para isso são necessárias, além de talento, condições estruturais de apoio institucional, como recursos, planos de gestão, programas de educação e de formação, que cabem às políticas públicas estabelecer e fazer funcionar, com regularidade e eficácia. O fato de não jogar futebol, no entanto, não nos impede de amá-lo, de sermos amadores de sua prática, de praticá-lo sempre, mesmo que, na maioria das vezes, “só” pela admiração aficionada de torcedor. Que seja assim com o conhecimento e com a cultura científica! Que sejamos todos, se não profissionais, amadores da ciência, como torcedores e divulgadores críticos e participantes de sua prática e de seus resultados para o bem-estar social e o bem-estar cultural das populações do planeta.

Nesse sentido, as feiras, os museus, os prêmios e as premiações, os eventos, enfim, de motivação e de mobilização da sociedade para o amor da ciência e do conhecimento, aqueles eventos que nos constituem, não necessariamente como profissionais, mas como amadores da ciência, têm em comum a característica de, na espiral da cultura científica, se situarem no terceiro e no quarto quadrantes, os do “ensino para a ciência” e o da “divulgação científica”, embora, na verdade, se distribuam por todos eles.

A palestra é gratuita e sem necessidade de inscrição.

Sobre Carlos Vogt: Nascido na cidade de Sales de Oliveira, interior de São Paulo, é um lingüista e poeta brasileiro. Graduou-se em Letras na Universidade de São Paulo e fez mestrado na Universidade de Besançon, França. Posteriormente doutorou-se em Ciências no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp. Em 1990 foi eleito reitor da Unicamp, cargo que exerceu até o ano de 1994. Foi presidente da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) até agosto de 2007, quando assumiu a Secretaria de Ensino Superior do Estado de São Paulo, onde permaneceu até 2010.

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